Prólogo
O
relógio me mostrava que já eram quatro e meia da madrugada. Daqui a mais ou
menos uma hora, eu veria o sol nascer e estaria renascendo com ele naquele
momento. Fazia exatamente seis horas e dez minutos que eu tinha deixado para
trás aquilo que vinha me destruindo por cerca de dois anos, e fazia quatro
horas que eu estava escrevendo o texto mais doloroso e necessário da minha
vida. Eu fui embora e agora isto estava escrito em um papel, com direito a versos
e muita emoção.
Eu
te amei. Do primeiro segundo até agora. Te amei e acreditei, enquanto fechava
os olhos para suas primeiras mentiras e seus jogos.
Você
parecia me dar tudo. Me envolvia numa falsa sensação de ser amada de volta. Mas
lá no fundo, onde meu amor não me deixava chegar, eu sabia que era tudo ilusão.
Um
dia você me admirava, exaltava, me coloca em um pedestal que nenhum recorde meu
havia me colocado antes. Mas então você me derrubava de maneira profissional, e
me deixava acreditar que fui eu quem fiz isso.
Te
contei meus medos, sonhos e segredos. Eu te fiz de melhor amigo quando você
nunca mereceu este posto. Me deixei ser pra você, enquanto você nunca foi nada.
Você
me deu o amor de muitos filmes e livros. Um amor mendigado, conturbado, perdido
e nunca consumado. Você era o príncipe que sempre sonhei, ainda que eu nunca tenha
tido chances de fazer parte do seu reino.
Idas
e vinda. Sonhos e desilusões. Nosso amor era cheio de emoções, como eu sempre
acreditei que tivesse que ser. Mas isto não é amor, nunca foi amor.
Quando
você finalmente se mostrou, sem máscaras e mentiras, achei que fosse desmoronar
junto com nossa ilusão. Você me cobrou por cada sorriso. Cada vez que me fez
acreditar na felicidade.
Você
me disse que eu deveria de agradecer, que devo tudo a você. Mas foi no nosso
fim que eu finalmente me vi. Foi ao me falar que eu deveria te agradecer que
pela primeira vez você me deu algo de verdade.
O
nosso fim foi meu recomeço. E só por isso, é que eu te agradeço.
Comecei
a ler aquelas palavras e então, ainda que doesse, as lembranças foram me
consumindo.
Capítulo
01
Eu te amei. Do primeiro segundo até agora.
Eu
me olhava no espelho daquele enorme camarim e tentava dizer a mim mesma que não
havia motivos para tanto nervosismo. Qual é, eu tinha vinte e um anos e além de
ter um blog de sucesso, colecionava quase três milhões de seguidores no
Instagram, cerca de um milhão no Twitter e ainda tinha dois livros lançados e
um deles estava sendo adaptado para filme. Não era à toa que eu havia sido
chamada para aquele programa de tevê na maior emissora do país. Eles me
convidaram porque a pauta era jovens que se comunicam e lideram jovens, e se eu
fui chamada, aquilo já era motivo suficiente para saber que merecia. Mas porque
aquele bolo no estômago insistia em continuar ali?
Como
se lesse minha mente e soubesse que eu iria lhe ligar, escutei meu telefone
tocar e era Ana, minha melhor amiga, me ligando.
—
Oi, Ana — falei, tentando não deixar tão claro o alívio que era escutar a voz
dela.
—
Liguei para te desejar um bom programa e pra repetir que você merece muito tudo
que está vivendo — disse, como se mais uma vez fosse capaz de ler minha mente.
—
Obrigada, eu tô uma pilha de nervos — confessei e minha amiga sorriu.
—
Suspeitei, porque acho que estaria da mesma forma. Mas essa não é a mulher
confiante que conheço. Você vai arrasar, sempre arrasa. Hoje não será
diferente.
—
Obrigada.
Assim
que desliguei, uma moça da produção bateu em minha posta e segundo depois
abriu-a e disse:
—
Renata, você entra em dez minutos.
Balancei
a cabeça em um sim e depois baixei a cabeça e fiz uma pequena oração.
Agradecendo por tudo que vinha conquistando. Depois disso, virei-me para o
espelho e sorri, pensando que tudo aquilo era muito mais do que eu poderia
esperar. Foi só depois de sorrir que vi o reflexo dele no espelho.
Eduardo,
mais conhecido como Edu Novaes, me encava pelo espelho e sorria de forma
conspiradora, embora nunca tivéssemos sequer nos visto e nossa única ligação
fosse a de que ele faria algum papel no filme do meu livro.
—
Oie — ele disse assim que percebeu que havia sido flagrado.
—
Oi — respondi, ainda sem saber o motivo dele estar ali me encarando.
—
Tudo bem? Ouvi falar que você estava por aqui e resolvi me apresentar antes de
chegamos ao palco.
—
Ah, sim! — respondi, mesmo que não visse necessidade daquilo. — Soube que você
vai estar no filme, é bom finalmente te conhecer.
—
É bom conhecer a tal garota que anda sendo responsável por um verdadeiro surto
entre minhas fãs. Elas fizeram mutirões para pedir minha presença no seu filme,
assim que souberam da notícia da adaptação.
—
Eu vi — respondi, rindo. Afinal, como ignorar mais de trezentos comentários da
mesma pessoa em sua rede social e isso sendo multiplicado por milhares de
garotas? — Passei dois dias sem entrar no meu Instagram porque estava
impossível filtrar as coisas, além de desativar as notificações, claro —
completei, ainda rindo.
—
Elas são legais, juro! — ele disse enquanto beijava os dedos indicadores que
estavam juntos em forma de X.
—
Não acho o contrário, mas
definitivamente eu não estava pronta para aquilo.
—
Quer saber de um segredo? — ele perguntou, novamente com aquele tom íntimo e
conspiratório.
—
Qual? — perguntei, curiosa.
—
Acho que ninguém nunca tá pronto para esse assédio, mas a gente se acostuma.
Então
ele deu aquele sorriso, o sorriso típico das capas de revistas teen’s que
fizeram parte de toda minha adolescência e agora eram apenas digitais. E sem
nem perceber eu me derreti. Muito mais do que eu gostaria e deveria, mas eu
estava completamente derretida.
***
Estávamos
em uma das inúmeras reuniões com a produtora do filme “O paraíso é aqui” e
embora eu amasse saber que era do meu filme que eles falavam, eu não conseguia
me concentrar naquela falação toda. Participar ativamente da construção do roteiro
e da escolha dos papéis havia sido uma exigência minha que minha agente fez
valer ao pé da letra, mas quando decidi por aquilo não fazia ideia de que
participaria de tantas reuniões com tantas falas e poucas coisas decididas. Eu
já estava pronta para fingir receber uma ligação, quando um dos homens falou:
— Como vocês sabem, a empresa exigiu que
tivesse alguns rostos já muito conhecidos no filme, muito embora seja também
nossa intenção ser responsável por colocar novos rostos no mercado. Assim não
tem estrelismo e eles ainda ficam nos devendo uma.
Ainda
que eu não tenha pego a piada, todos parecem pegar e riram junto com o rapaz
que falava.
—
Um dos nomes sugeridos e que já está certo é do cantor Edu Novaes. Muita gente
não sabe, mas ele fazia teatro e chegou a estrelar algumas peças, embora só
tenha estourado como cantor. O lance é que ele tem talento. E o empresário dele
disse que o tal Edu anda querendo colocar a atuação em evidência.
—
Embora aquele empresário novinho não pareça ter capacidade de decidir alguma
coisa.
Ao
ouvir aquilo levantei minha mão e falei:
—
Mulher de vinte e um anos presente na reunião e com certeza absoluta do que
quer com esse filme.
Mariana,
minha agente que acompanhava tudo no outro lado da sala, deu um sorriso orgulho
para mim antes de baixar a cabeça e voltar a digitar de forma enlouquecida no
celular.
—
Desculpe, não quis ofender. É só que é uma manobra arriscada se esse cara não
for bom na atuação. Mexer em uma carreira que só cresce pra se arriscar dessa
forma, pode não dar muito certo.
—
Então porque não começamos logo os teste efetivamente e vemos se ele consegue?
—
Era exatamente sobre isso que eu queria falar — o primeiro rapaz, que só agora
eu lembrava que se chamava Jorge, retomou a fala. — Queremos começar a decidir
os papéis amanhã. Você pode amanhã, Renata?
—
Claro que sim! — respondi, sentindo o frio na barriga de quem estava realizando
um sonho.
Assim
que chegamos no estúdio de gravação onde seriam decididos os papéis, dei de
cara com o Edu Novaes que veio logo me dar um oi.
—
Oi, fiquei feliz de saber que você viria — disse e sorriu.
E
aquele sorriso junto ao tom de voz entregou todas as suas intenções. Ele não
estava falando com a autora do livro que ele estrelaria o filme, mas sim com a
mulher que ele tentava flertar. Sabendo que talvez tivesse que vê-lo mais vezes
no set do que o aceitável para quem ficava, resolvi responde-lo de forma
profissional.
—
Oi. Vim sim, hoje iremos avaliar vocês.
Edu
pareceu entender meu corte e apenas deu de ombros antes de perguntar:
—
Você toparia tomar um café bem longe desse set depois de terminarmos aqui?
Bom,
aparentemente a confiança dele não era fácil de abalar e de alguma forma isso
me agradou. Quando se tem números profissionais expressivos como eu, nossa vida
amorosa começa a sofrer de dois malas: ou o cara te enxerga apenas como número
e praticamente te sugere uma união de empresas — e eu, embora tivesse minhas
conquistas, não me resumia a números e odiava que me visse assim — , ou então o
cara fugia no menor sinal de perder o posto de todo poderoso da relação.
E
eu podia ter um bom número de seguidores e livros vendidos, mas meu público era
restrito ao literário e de comportamento, enquanto Edu alcançava muitas pessoas
de diferentes públicos. Então, ele não tinha por que ligar para minha carreira
e não se abalou quando me viu no poder. Parecia o cara certo para flertar.
—
Talvez — respondi dando um sorriso, antes de ir ao encontro de Mariana.
Capítulo
02
Te amei e acreditei, enquanto fechava os olhos para suas
primeiras mentiras e seus jogos.
Não
saí com Edu aquele dia, nem nas duas outras vezes que ele me convidou, não
porque eu estivesse fazendo jogo duro, mas porque estava ocupada demais. Mas
isso não significava que não estivéssemos em constante contato, tanto que ele
havia se tornado, depois de Ana, a pessoa com quem eu mais conversava. Ultrapassando
até a Mariana e sua facilidade de digitar inúmeras mensagens por segundo.
Eduardo
e eu ainda não flertávamos abertamente, acabamos criando uma espécie de jogo
engraçado onde nos divertíamos com o fato dos dois tentarem deixar tudo nas
entrelinhas. Hoje seria então a primeira vez que nos encontraríamos a sós e
quem sabe, deixaríamos o flerte explícito.
Marcamos
em um café distante do centro de São Paulo, um lugar que Mariana, nascida e
criada naquela enorme cidade, havia me sugerido quando contei bem por alto quem
eu iria encontrar. Ela sempre foi a salvação para Ana e eu, que víamos de
Pernambuco e pouco conhecíamos da cidade nova.
Esperei
encontrar Eduardo assim que chegasse ao café, mas em vez disso encontrei seu
empresário — e pelo que pude perceber, grande amigo — sentado na mesa que havíamos
reservado.
—
Oi — ele respondeu com um sorriso amistoso.
—
Oi. Aconteceu alguma coisa com o Eduardo?
Eu
não trocara mais de três palavras com aquele rapaz anteriormente, e vê-lo ali
me parecia um sinal de que algo não estava certo.
—
Não, não — ele disse balançando as mãos em descaso, afastando meus temores. — É
só que o Eduardo vai precisar se atrasar e também preciso resolver uma coisa
com ele. Então marcamos de nos encontrar aqui, mas serei rápido e logo deixarei
vocês.
—
Ah, sim — falei em compressão, ainda que aquilo me deixasse um pouco encabulada.
Talvez
o rapaz tenha percebido meio receio, pois logo decidiu falar:
—
Bom, como vamos passar um tempo aqui, deixa eu me apresentar. Sou o Benjamin,
empresário do Edu. Como ele gosta de brincar, sou a versão chata dele.
Eu
ri, porque Edu já tinha feito essa brincadeira ao me falar dele.
—
Mas além de cuidar da carreira daquela criatura adorável, — falou em meio a
risos — eu vez ou outra me aventuro como produtor musical e cozinheiro.
—
Cozinheiro? — indaguei, me perguntando como ele teria tempo pra tanta coisa.
—
Essa parte é só para amigos e familiares, mas como gosto muito, achei válido falar.
—
Eu também amo cozinhar, na verdade, sempre tive que fazer isso, mas mesmo sendo
obrigação, é feito com prazer.
—
É de grande valia cozinhar, né? Vez ou outra eu salvo Eduardo de passar fome,
por exemplo — ele brincou, rindo.
—
Vocês são bem amigos, né?
—
Ah, sim. Sou apenas dois anos mais velho que ele e sempre moramos perto. Uma
coisa levou a outra.
—
Entendi.
Logo,
Ben e eu já estávamos rindo e compartilhando receitas como velhos amigos. Tanto
que mal vi quando Eduardo se aproximou, e só então me dei conta que esperamos
por ele por uma hora.
Os
dois se afastaram para resolver questões de trabalho e uns quinze minutos
depois voltaram.
—
Você pode comer conosco, Ben — sugeri.
Edu
olhou pra mim e dei de ombros. Bem era um amor de pessoa e já estava lá, seria
mancada não convidá-lo, além disto, por causa do atraso de Edu, agora só
teríamos umas meia horas para comermos. E perceber que ele tinha um amigo tão legal
acabava me fazendo gostar mais dele, então não era como se fosse atrapalhar o
que “tínhamos”.
—
Certeza?
—
Sim, sim. Senta aí, cara — Eduardo disse sorrindo e sorri também.
Como
eu já sabia, termos divido nosso café da manhã com outra pessoa não atrapalhou
o que Edu e eu parecíamos ter. Na verdade, agora ele finalmente estava sendo
mais direto e passamos da fase do subtendido para explicito. Regada a conversas
diretas e flertes deliciosos.
—
Eu bem que poderia estar aí contigo, né? — Edu disse em um momento específico
da ligação e mordi o lábio.
—
Seria ótimo.
—
Acho que não precisa me preocupar com cerimônias e já poderia te beijar e te
ter em meus braços.
Novamente
mordi o lábio. Eu gostava de como Eduardo conseguia ser direto sem passar por
cima dos limites que mesmo sem falar, ele sabia que eu tinha. Então, em um
rompante de coragem misturado com loucura, falei:
—
E por que você não vem? Tenho certeza de que valho o esforço de você sair de
casa e vir até aqui.
Ouvi
uma risada do outro lado da linha e achei que pudesse ter sido um pouco
desesperada, mas então ele respondeu:
—
Deixa a porta aberta. Tô indo aí.
Ri
de maneira empolgada ao ouvir aquilo. Finalmente aquele flerte todo se tornaria
real.
Como
Eduardo pediu, deixei a porta destrancada e ele não bateu ao entrar. Estava
sentada no sofá quando escutei a porta abrir e só deu tempo de sorrir antes
dele sentar ao meu lado e me dar um beijo cheio de desejo que deixou meus pensamentos
embaralhados e sem forma.
—
Oi para você também — respondi, assim que sua boca deixou a minha.
—
Oi, Renata — disse, me dando um selinho.
—
Você não brinca em serviço, hein?
Eduardo
riu e mordeu o lábio enquanto me encarava nos olhos.
—
Você não sabe a quanto tempo eu queria fazer isso.
Passamos
então algumas horas alternando entre beijos, cenas de um filme qualquer e uma
pizza que pedimos. Quando ele foi embora, três horas depois, eu já sabia que
estava perdida.
Como
tínhamos o filme sendo rodado e uma agenda lotada, Eduardo e eu preferimos não
tornar nada público. Ele havia conseguido o papel principal e achamos que falar
sobre o que tínhamos poderia colocar a decisão em cheque, mesmo que soubéssemos
que ele conseguiu por méritos próprios. Nem mesmo para Benjamin havíamos contado,
Eduardo falara que o amigo e empresário certamente, embora tivesse se tornado
meu amigo, não veria com bons olhos o nosso lance, porque sendo sinceros, isso
poderia sim afetar a carreira dele. Então era nosso segredo, na verdade nosso e
de Ana, que fora a única pessoa para quem contei.
Faltavam
apenas mais dois dias de filmagem para o filme terminar e quanto as cenas eram
gravadas, Benjamin e eu jogávamos um jogo maluco que inventamos para passar
tempo. Era uma espécie de adivinhação, porém sem ter que adivinhar a coisa em
si, mas dizer coisas relacionadas com ela.
—
Você está roubando — ele me acusou baixinho quando suspeitou que eu tivesse
mudado minha palavra.
—
Claro que não — respondi rindo, porque realmente eu não estava. — Você só diz
isso porque não consegue acertar nada.
—
Então me conta qual é a coisa que você está falando.
—
Não vou. — Rebati rindo da cara de desconfiança dele. — A não ser que você
aceite que perdeu.
Ele
respirou fundo e depois soltou o ar derrotado.
—
Pode contar, reconheço que perdi.
—
A palavra era presidente — falei, rindo da incapacidade dele de ter adivinhado.
—
Ei, você roubou então. Eu perguntei se era animal e você disse que não.
—
Mas não é! — rebati sem entender.
—
Mas aquele homem é uma anta, e anta é o que se não for animal?
Sua
pergunta junto a cara de revolta por eu não ter lhe dado pontos me causou uma
crise de riso que acabou chamando a atenção do set inteiro e vi Ben se encolher
segundo antes do diretor gritar:
—
Que merda de barulho é esse? Vocês estão atrapalhando a galera.
Porém,
ainda que eu soubesse que deveria parar de rir, não conseguia e em vez de
Benjamin me controlar, acabou por rir junto e Mariana precisou me puxar para
fora do set antes que eu fosse expulsa.
— Des... desculpa. — falei para ela quando
comecei a me acalmar.
A
sacada de Benjamin havia sido genial e eu fui muito errada de não ter lhe
pontuado quando ele falou.
—
Olha, eu sei que o cara é lindo de morrer, tem um papo bom e tudo mais, mas
você vai acabar sendo expulsa do próprio filme se não se calar — ela falou
rolando os olhos.
—
Não tem nada a ver com a beleza dele — comecei mais calma. — É só que a gente
tava brincando daquele jogo e... – e novamente a vontade e rir começou a
voltar.
Mariana
balançou as mãos para que eu não falasse e depois disse:
—
Gata, eu vou te falar duas coisas: você é uma vaca sortuda demais pra ser verdade,
mas você precisa decidir qual deles vai querer, porque eu suspeito que nem você,
nem eles sejam adeptos do poli amor.
Parei
de rir automaticamente, sem conseguir entender o que ela queria dizer.
—
Do que você tá falando?
—
Eu venho fazendo a cega, surda e muda sobre seu lance com o Eduardo, mas eu
sei, tá bem? Você não é muito boa em esconder que tá beijando alguém. Mas tá na
cara que o Benjamin também te quer, e justiça seja feita, Eduardo é muito melhor
de esconder do que você, então ele nem deve fazer ideia. Só que tá na hora de
decidir qual dos dois você quer, né?
—
Hã? Claro que não. O Benjamin nunca chegou nem perto de tentar algo comigo. De
onde você tirou isso?
—
Faz assim: pergunta para o Eduardo e escuta dele, porque a julgar pela cara que
ele fez hoje, ele tá claramente incomodado.
Continuei
sem acreditar naquela história e encarava Mariana sem saber o que falar.
—
E se, somente se você quiser um conselho, os dois são ótimos, mas eu ficaria
com o empresário. O cantor é estrelinha demais e sabe, né? Ego de artista é
difícil de lidar.
Dito
isso, Mariana deu as costas e voltou para onde estava. Me deixou sozinha com
meus pensamentos que estavam deixando meu cérebro em colapso.
***
Embora
ainda não tivesse perguntado a nenhum dos dois, as palavras de Mariana não
saíam da minha cabeça e acabaram me tirando algumas horas de sono nos dias que
se seguiram. Agora, enquanto eu escutava Ana contar sobre o cara que ela havia
conhecido e que tinha certeza que era o homem de sua vida — e eu esperava que fosse,
porque não tinha nem duas semanas e ela já estava completamente apaixonada — minha
mente se perguntava mais uma vez se Mariana estava certa sobre suas conclusões.
—
Rê, você está me escutando ou só fingindo que me ouve? — minha perguntou, impaciente.
—
Desculpe — pedi, fazendo um bico derrotado enquanto passava a mão nos cabelos. —
É que eu estou com um negócio na minha cabeça que não me deixa em paz.
Ana
me conhecia muito bem para saber aquela era a hora em que eu precisava
desabafar ou enlouqueceria.
—
E o que tá rolando?
—
Estávamos filmando esses dias. Ben e eu estávamos jogando um joguinho bobo
quando caímos numa crise de riso que deixou o diretor bem irritado. Então
Mariana veio falar comigo e me mandou decidir qual dos caras eu queria porque
ela acredita que o Ben gosta de mim.
Ana
ainda não conhecia nenhum dos dois, tudo que sabia era o que eu lhe contava.
Então me deu um conselho sábio:
—
Não sei opinar se ela está certa e acredito que tudo que você menos queria é
perguntar isso ao Benjamin e escutar um enorme sim, então, se o Eduardo é o
melhor amigo dele, deve saber...
—
Mariana disse que deu pra ver que Benjamin estava enciumado — adiantei em lhe
contar.
—
Então, pergunta a ele. Conta que Mariana te disse e que você só tá perguntando por
que não quer causar nenhum problema. Você gosta dele, então explica que isso é
até melhor pra vocês dois, saber e tals... Você disse que ele é super sincero,
então ele vai saber te responder melhor que Mariana e eu.
—
Você é maravilhosa, Ana — respondi dando-lhe um abraço e um beijo na bochecha
que ela logo passou a mão no rosto enquanto resmungava sobre como não gostava
de agarrado.
Assim
que Eduardo e eu tivemos tempo de ficarmos sozinhos, tentei aos poucos ir chegando
na conversa para deixar tudo esclarecido. Até que finalmente perguntei:
—
Edu, você acha que o Benjamin sente algo por mim?
Pela
cara de Eduardo, de completa estranheza com o assunto, percebi que não tive a
melhor das abordagens.
—
Por que você tá perguntando isso do nada?
—
Não é do nada. É que lembra do dia que tive uma crise de riso no set? Mariana
contou que já sabia de nós dois e disse que o Ben também gostava de mim. E eu não
queria perguntar essas coisas a ele, sei lá, não deixar o clima chato. E você é
sincero comigo, então sei que vai me dizer a verdade.
—
Entendo — ele disse, calmo.
—
E acho que seria chato, né? Porque eu gosto de você e.. — comecei a ficar
nervosa.
—
Ei, relaxa, tá bem? O Benjamin não tem interesse em você. Conheço o cara desde
que me entendo por gente e saberia se isso fosse verdade. Benjamin não quer
nada com você.
Respirei
aliviada e sorri, ao mesmo tempo em que Eduardo sorriu ainda mais largo.
—
E falando em nosso lance, o que você acha de ser minha namorada oficialmente?
Estava vendo qual momento da noite eu te perguntaria isso.
Em
minha mente, um pensamento não fui feliz passou no momento em que escutei o
pedido. Será que ele estava pedindo só porque falei do Benjamin? Mas então
Eduardo sorriu para mim e tudo pareceu sumir.
Ele
queria namorar comigo, de maneira oficial. E nada mais importava se não aquilo.